
Onde foram as palavras... Absurdas, obscuras e frágeis. Faltam-me palavras para descrever essa sensação, essa compulsão, essa tensão que parece eletrificar o corpo. Meu corpo, tão frágil e cheio de segredos que de repente se abrem como um mar em atrito, turbulento e grandioso, selvagem e antigo, num vai e vem gritante de ondas a bater em rochas milenares, que parecem gritar... Toma-me, mata-me agora! Liberta-me de ser eu, salpicada de anêmonas, estalactite, moluscos e algas. Arranca-me os cabelos e mata-me. Acaba com essa pulsão que se projeta como coisa selvagem, com esse bater de ossos de dentes e coração, onde os nervos degeneram-se, em fiapos. Faltam-me palavras e coragem para gritar possua-me, toma-me com força dentro dessa febre absurda de sentir, sentir, sentir...
((Mara Araujo))