quinta-feira, 6 de junho de 2013

Assim Falou Zaratustra --- Frederico Nietzsche

“Grande astro! Que seria da tua felicidade se te faltassem aqueles a quem iluminas? Faz dez anos que te abeiras da minha caverna, e, sem mim, sem a minha águia e a minha serpente, haver-te-ias cansado da tua luz e deste caminho. Nós, porém, esperávamos-te todas as manhãs, tomávamos-te o supérfluo e bendizíamos-te. Pois bem: já estou tão enfastiado da minha sabedoria, como a abelha que acumulasse demasiado mel. Necessito mãos que se estendam para mim. Quisera dar e repartir até que os sábios tornassem a gozar da sua loucura e os pobres da sua riqueza. Por isso devo descer às profundidades, como tu pela noite, astro exuberante de riqueza quando transpões o mar para levar a tua luz ao mundo inferior. Eu devo descer, como tu, segundo dizem os homens a quem me quero dirigir. Abençoa-me, pois, olho afável, que podes ver sem inveja até uma felicidade demasiado grande! Abençoa a taça que quer transbordar, para que dela manem as douradas águas, levando a todos os lábios o reflexo da tua alegria! Olha! Esta taça quer de novo esvaziar-se, e Zaratustra quer tornar a ser homem”.