"Você não vale um poema. Um verso. A rima imperfeita. Uma letra para a melodia repetida no silêncio. Não vale. Você não vale a madrugada perdida. O amanhecer no sofá. A febre. O vômito. O grito. Uma foto rasgada. Um diário queimado. Os cabides quebrados. Não vale. Você não vale o corte riscando o pulso. Um punhado de remédios. Os discos tristes. Um solo de sax. A mão por horas sobre o telefone. A espera. Um carro no poste. Um soco na parede. O vaso jogado no chão, você não vale. Não vale um espelho trincado. O copo atirado. O gemido atravessando a cidade. O palavrão. Não. Você não vale o tempo perdido. A teimosia da busca. Mas eu lhe procuro. Ainda. Eu escrevo versos. Faço poemas. Eu amanheço na febre. Acelero contra o muro. Ouço discos riscados. Engulo comprimidos em punhados. Eu vomito. Você não sabe, não imagina. Mas eu não aprendi. Eu ainda faço tudo por alguém que não vale nada".
(Desamores de Eduardo
Baszczyn. Finalista do Prêmio Sesc de Literatura.)