quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Um certo desabafo... >:-(

"Nada tenho a ver com não gostar de mim. Me aceito impura, me gosto com pecados, e há muito me perdoei."

(Martha Medeiros)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Homem antigo – 13

O homem antigo anda em torno de si sem saber ao certo o que deve fazer da vida. O homem antigo vive procurando nos livros algumas palavras mais claras que possam explicar o tempo e o desencantamento. O homem antigo observa o mar e se comove, mas não diz para ninguém. O homem antigo molha os pés na água e caminha em silêncio, junto das gaivotas. O homem antigo atravessa as ruas com lâmpadas apagadas e vê o mar de muito longe, mas sente o cheiro das águas. O homem antigo então tem vontade de não existir mais. O homem antigo está irremediavelmente perdido. O homem antigo vive seu próprio desassossego e procura dar mais alguns passos, não para existir, mas apenas para esquecer, já que vive de esquecimentos. O homem antigo passou na vida. O homem antigo está diante do oceano, mas tem receio de patir.


aqui: http://blogs.jovempan.uol.com.br/poeta/homem-antigo-13/

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Somente somos alguém quando nós mesmo decidimos ser nós mesmo

Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste.
O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.

Fernando Pessoa, 'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'