quarta-feira, 9 de junho de 2010
As palavras
... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que
cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas...
Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ...
Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente
a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos
amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes
de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas
palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu
poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as,
limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as
cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como
frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as
revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as,liberto-as ...
Deixo-as como estalactites em meu poema; como
pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de
naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma
idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque
outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a
esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso,
plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto
vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser
raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro
escondido e na flor apenas desabrochada ...
Que bom idioma o
meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ...
Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras,
Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*,
feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com
aquele apetite voraz que nunca mais,se viu no mundo ...
Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais
às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde
passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos
bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como
pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui
resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos
ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram
tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.
(Pablo Neruda)
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3 comentários:
Flor..
Sempre bom ler você..
Ultimamente essa visita no teu cantinho tem me trazido calma e tranquilidade, ando precisando, parece que coloquei todos os dedos na tomada rsrs..Aqui lendo tuas palavras doces e leves me acalmo. Claro que muitas leituras também me agitam mais rsrs, mas abafa o caso..E tantas visitas no teu blog não se justficam por mera curiosidade. Creio que mesmo no meio virtual nós escolhemos que lugares conhecer e frequentar.Não posso falar por todos, mas eu, vim, visitei, gostei, me sinto super bem e venho sempre que posso(ou preciso rsrs)..
Beijosss carinhosos..
Pablo Neruda é tudo de bom!
ótimo seu bom gosto e belissima entrega!
delícioso fds juntinho de seu Senhor
Beijos iluminados
{ísis}_MN
Como vc é endiabradinha sua danadinha...rsrs...Quer me ver chorar é isso ? Pois conseguiu fique muito emocionada com suas palavras, meu papai do céu!!! Que delicia ler vc meu benzinho. Venha sim pq mi casa tu casa..rsrs..É interessante mesmo como tem pessoas que nos fala sem que ao menos olharmos em sues olhos. Eu estou aprendendo a escrever, pena que não sei usar belas palavras, daquelas que vc mereça ler. Veja o Nerudo, ele fala tão bem das palavras que nos emociona muito...eu o amo !
Obrigada por tudo...tudo mesmo ganhei meu dia com sua agradável visita.
Tenha um maravilhoso fim de semana!
Beijokas ËÑÐÎÅBRÅÐÅ !
{ísis}, é verdade uma vez eu li que falar era difícil falar do Neruda, pq "o que é um fósforo pode falar do Sol? Apenas que a luz que irradiam é a mesma só que o Sol é infinitamente mais intenso." É verdade ele nos encanta sempre...
Obrigada por sua visita e por suas palavras, adoro quando vc passa por aqui...volte sempre, ok ?
Bom fim de semana!
Beijokas {ísis}.
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