quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Fragmento do livro “Água Viva”, de Clarice Lispector


Arrepio-me toda ao entrar em contato físico com bichos ou com a simples visão deles.

Os bichos me fantasticam. Eles são o tempo que não se conta.

Pareço ter certo horror daquela criatura viva que não é humana e que tem meus próprios instintos embora livres e indomáveis.

Animal nunca substitui uma coisa por outra.

Os animais não riem. Embora às vezes o cão ri. Além da boca arfante o sorriso se transmite por olhos tornados brilhantes e mais sensuais, enquanto o rabo abana em alegre perspectiva. Mas gato não ri nunca.

Um “ele” que conheço não quer mais saber de gatos.

Fartou-se para sempre porque tinha certa gata que ficava em danação periódica.

Eram tão imperativos os seus instintos que na época do cio, após longos e plangentes miados, jogava-se de cima do telhado e feria-se no chão.

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